domingo, 28 de março de 2010

ERNESTO SILVA VOOU E FOI
PARAR NOS BRAÇOS DE DEUS

O pioneiro Ernesto Silva plantou-se no Planalto Central. Criou raízes, gerou flores mágicas, concebeu frutos que alimentam o tempo, produziu sombra acolhedora e solidária. Virou pé de cedro. Guarda de honra da cidade mistério. Veio de longe, de onde cantam as ondas, de onde os morros e os peixes falam com os homens. Veio do Rio de Janeiro, como eco do grito de um amigo. Cheirando a maresia, chegou ao cerrado de Goiás, planta experiente, já crescida, consciente de seu potencial, no dia cinco de fevereiro de 1955. Somou-se a outras árvores nativas, goianos especiais, jequetibás, angicos, aroeiras, como Americano do Brasil, Peixoto da Silveira, Altamiro Moura Pacheco, também médicos; recebeu as mãos calorosas do Governador de Goiás, José Ludovico de Almeida, do Vice-governador, carioca-goiano Bernardo Sayão, do Deputado e Secretário da Educação José Feliciano, do comunicador e empresário, Jaime Câmara, e de tantos outros goianos anfitriões.

Há pedras fundamentais. No entanto, Ernesto Silva é planta fundamental na construção e preservação da história de uma cidade moderna, ousada, meio a formas surrealistas de aneladas copas de arbustos do sertão. Médico, Veterinário, viu que “nesta terra tudo se plantando dá”; como seus colegas médicos, como outros profissionais, viu que este chão é o mais central, o mais saudável, o mais salubre e, à época, o menos conhecido do Brasil. Tomou o cafezinho da goianidade e ficou por aqui, nas mais versáteis funções e atribuições pioneiras. Defendeu a causa da vida, nas diversas dimensões: saúde, educação, moradia, lazer e cultura. Por isso mesmo, foi, ao lado da Professora Josmelinda Poerch Lima, no Teatro Nacional de Brasília, homenagem especial pelo CECULCO, nos 25 Anos da Capital Federal.

Escritores, musicistas, artistas plásticos e cênicos, autoridades políticas e culturais, funcionários enfeitaram com suas presenças físicas e artísticas a celebração do Ano Jubileu de Prata de Brasília, aos seis anos de atuação do CECULCO. Participaram do evento instituições de Educação e Cultura, destacando-se, à oportunidade, o CEUB, o Colégio Planalto, a Fundação Educacional/DF, a Academia Goiana de Letras, as Representações dos Governos de Goiás, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul, o Ministério da Cultura/MINC. O Brasil-Central fez-se presente para homenagear os pioneiros de Brasília, nas pessoas de Dr Ernesto Silva e da Professora Josmelinda P. Lima. Além das falas oficiais e dos expressivos brindes de dança da Academia Norma Lílian, merece destaque uma exposição de arte sacra e a interpretação de música e de poemas, em que Vinícius de Moraes e Jobim, da Sinfonia Alvorada, são representativos:
No princípio era o ermo, eram antigas solidões sem mágoa, o altiplano, o infinito descampado. No princípio era o agreste: o céu azul, a terra vermelho-pungente e o verde triste do cerrado. Eram antigas solidões banhadas de mansos rios inocentes. Por entre as matas recortadas, não havia ninguém.
Assim, Dr Ernesto encontrou o chão goiano, sonhado por Dom Bosco e escolhido por JK, e cobrado por Toniquinho para se tornar a Capital do Brasil. O Pioneiro do Antes, como era chamado pelos amigos mais antigos, apaixonou-se por todos os versos do poema de Juscelino, antes mesmo de serem escritos, obra artística e musical, tocada a cinco pares de mãos e cuidada pela coragem lírica e científica do Pioneiro do Antes. Ernesto Silva, verdadeiro Anjo da Guarda, como o é seu grande amigo e amigo de Brasília, Affonso Heliodoro, de décadas de lealdade e coragem. Sob o olhar do historiador Ronaldo Costa Couto, é legítimo defensor da cidade, com garra, enfrentando a tudo e a todos, sem medo dos poderes.
Hoje, cinco de fevereiro de 2010, os jardins de Brasília transportam-se para o Instituto Histórico e Geográfico/DF, colorindo com todos os matizes o altar da Santa Missa da Esperança e a emoção dos elos da ciranda apaixonada pelo mais candango dos candangos. O celebrante é o escritor Padre Aleixo. De todas as cores, de todas as classes, de todas as idades, lá estão autores e autoras da História Contemporânea, aplaudindo cada marca de Ernesto Silva na construção e preservação de Brasília. Cinco de fevereiro, mesma data do encontro do Pioneiro do Antes com o sertão de Goiás, afirma sua esposa Sonia M. Souto Silva! Diferentes declarações de amor nas faixas e nas falas dos amigos e das instituições, ligadas às Ciências, às Artes e às Letras, acima de tudo, ligadas ao coração, aplaudem o homem que virou sentinela, que virou ninho, que virou pássaro, mimado pelas flores da cidade e do campo.
Crianças que brincam nas alturas, tornadas anjos, fazem coro à Sinfonia da Cidade Nova de Nestor Kirjner, à Sinfonia da Alvorada de Tom e Vinícius, cantadas alegremente por Sayão, Lúcio Costa, Burle Marx, Israel e JK. Cá em baixo, todos cantam, Niemeyer e Affonso Heliodoro fazem solo. O céu e a terra saúdam Ernesto Silva, um pé de cedro que se plantou no cerrado, visionário de horizontes largos, acolheu-se em seu próprio ninho, tornou-se passarinho, voou, e foi morar nos braços de Deus.

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