Discurso Cinquentenário da Caravana de Integração Nacional
A Caravana de Integração Nacional foi um feito histórico, — dentre tantos outros havidos naquele período, período que marcou e sinalizou a preocupação do Presidente Juscelino Kubitschek com o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Foi a realização da grande marcha do Norte e do Sul, do Leste e do Oeste, vencida pela Caravana de Integração Nacional, em direção a Brasília.
Feito que realizou, em seu fecundo período governamental, de tal grandeza, que tenha talvez motivado a cassação de seus direitos políticos, seu mandato de senador e sua indicação, já homologada pelo PSD, para a Presidência da República, nas eleições de 1965. Grandes feitos que, realizados, incomodavam, pela clareza da preocupação e determinação com o desenvolvimento econômico e social do Brasil, e que traziam, no seu bojo, as marcas de nossa independência política e econômica, provocaram a ira de seus adversários.
O FMI pretendeu interromper a construção de Brasília e o acelerado processo de desenvolvimento social e econômico de nossa Pátria. JK deu-lhes resposta em vigoroso pronunciamento feito no Palácio do Catete, rompendo relações com aquele órgão pretensamente intervencionista. O FMI criado para ajudar, e não para interromper os projetos econômicos dos países dele participantes, pretendeu interferir de maneira danosa no programa desenvolvimentista de JK.
A despeito das dificuldades imposta por aquele órgão, realizou-se a Caravana de Integração Nacional. Coroamento de uma luta travada contra o isolamento em que viviam as várias regiões de nosso país, cada uma amargando suas próprias dificuldades. Minas, São Paulo, Rio e a região sulina, isto é, apenas 1/3 do Brasil, tendo, de certa forma, já alcançado um relativo desenvolvimento, mas isolados da riqueza que se guardava aqui no Centro Oeste.
A Caravana foi o testemunho e a materialização de um ambicioso programa de integração nacional, realizado nos 5 anos do governo JK, com a construção de uma rede viária que compreendia grandes realizações no sistema ferroviário, rodoviário, hidroviário e aeroviário. Era a materialização do sonho de ver o Brasil se dando as mãos, interligado fisicamente em seu imenso território: a “teia de aranha” dos caminhos que iriam unir nossa Pátria.
Era o melhor atestado de que o Brasil havia mudado e estava dando, realmente, alentados passos no sentido de sua independência política e econômica. Era a realização da integração nacional, a partir da construção de Brasília e a ligação das vastas regiões brasileiras à sua jovem Capital. Realidade comprovada com a marcha pelo Brasil da Caravana de Integração Nacional.
Coordenada pelo major José Edson Perpétuo, ajudante de ordens e primo do Presidente, a Caravana revelou ao mundo que o Brasil deixara de ser um arquipélago e agora era realmente, uma extensão territorial integrada, ligada por rodovias, ferrovias, aerovias e hidrovias que tinham na Belém-Brasília, estrada Bernardo Sayão, o símbolo da nação nova que surgia depois de quatro anos de trabalho, luta, determinação e patriotismo de seu Presidente. Quero aqui acrescentar palavras de José Edson Perpétuo: “A Caravana de Integração Nacional teve custo zero para o erário nacional.”
A Caravana de Integração Nacional, a maior concentração de veículos em caravana já realizada em todo o mundo, revelou a existência de um novo país que nascia da coragem e do patriotismo de seu povo para ocupar seu lugar definitivo no concerto das nações.
De Belém a Brasília. De Porto Alegre a Brasília. De Corumbá a Brasília. Do Rio de Janeiro a Brasília. Façanha heróica - realizada por JK - integrando as vastidões de um país que se isolava dentro de si mesmo. Depois a ligação com o Acre, tão perto do oceano Pacífico, seria o trampolim para a conquista de novos mercados consumidores da enorme produção agropecuária resultante da ocupação do Centro Oeste. Seis milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados de território, com 92% de área agricultável e a segunda maior bacia hidrográfica do mundo. Adormeciam aqui onde hoje estamos. Recife e Fortaleza, completariam a integração nacional. Grandes rodovias que mudaram o panorama nacional. Rodovias feitas por empresas brasileiras, percorridas por caminhões, automóveis e jipes, de fabricação nacional; combustível nacional; pneus nacionais, asfalto, onde havia, nacional. Era o próprio testemunho do surgimento de um país novo, que nascia da coragem e vontade de seu presidente.
A Caravana venceu distâncias, obstáculos, dificuldades, confirmando a capacidade de nossa gente.
Depois de Brasília, a Caravana foi a maior demonstração de que o Brasil era, realmente, capaz de realizar-se como Nação.
Ir de Belém a Porto Alegre é como sair de Lisboa e parar em Moscou, ou sair de Nova Iorque e desembarcar na Califórnia.
A Caravana histórica chegou a Brasília antes de sua inauguração, para mostrar ao mundo que, realmente, com a construção da nova Capital estava-se construindo, também, um novo país.
JK em pé, numa pequena Romi-Isetta, desfilou passando em revista, no Eixo Monumental, as viaturas que realizaram a grande aventura. Era o dia 2 de fevereiro de 1960. O Brasil, formado por ilhas de povoamento, passava agora a ser um país integrado, não mais um arquipélago, como se dizia então.
São de JK estas palavras, ditas à chegada da Caravana em Brasília: “Viestes oferecer, aos que precisavam tocar materialmente o milagre para crer, a prova de que este país deixou de ser um conjunto de aglomerados solitários para ser um todo, para constituir uma unidade não apenas em palavras, mas de fato.” E mais adiante: “deixou de ser uma sequência de paisagens de florestas, de rios não aproveitados, um mundo impenetrável, fechado e começou a tornar-se senhor de uma pátria que por fim se ordena.” E mais: “Este é o momento em que devo confessar que me sinto orgulhoso de nosso esforço comum.”
Antes de terminar seu discurso, diria aos abnegados heróis dessa epopeia: “Mas que seria de mim se não tivesse encontrado homens indômitos, mártires até, que permitiram levássemos a cabo a tarefa ingente de rasgar a terra bruta às comunicações. À circulação da vida que nesta terra estua e se afirma?
A glória de termos derrubado, com estradas novas, as barreiras que isolavam as partes de nosso País, pertence aos trabalhadores, aos pioneiros, aos bandeirantes modernos.”
Um homem com estes ideais, com este gosto pelo trabalho, pela aventura de fazer e de criar, com a coragem de enfrentar desafios, sem jamais colocar seus interesses pessoais à frente de missões que lhe outorgara o povo brasileiro, não podia permanecer na vida pública, embora o povo brasileiro nunca lhe tivesse negado seu mais ardoroso apoio. Era preciso afastá-lo. O movimento de 1964 foi o instrumento usado por seus adversários políticos e por escusos interesses internacionais para tomar-lhe o mandato de senador, suspendendo-lhe os direitos políticos, roubando-lhe nova eleição à Presidência da República, para um novo mandato que seria o da total independência econômica e política do Brasil. Lançado candidato à Presidência da República, pelo PSD, já anunciava, em discurso pronunciado em Brasília, na sede do Partido, a preocupação com o campo, a criação das agrovilas, uma racional reforma agrária, levando ao interior as condições buscadas pelos brasileiros nas grandes cidades: trabalho, escola, saúde, diversão.
Essa proposta, que envolvia uma revolução no campo, um substancial e significativo aumento de nossa produção agropecuária. Não agradou, antes, preocupou aqueles que não queriam ceder ao avanço da nossa sociedade, ao enriquecimento, ou melhor, ao salto necessário para a realização da independência de nossa Pátria.
JK era uma ameaça ao mercado de grãos havido no mundo àquela época. Embora seu afastamento, o Brasil, à custa do desenvolvimento deixado por ele, das conquistas de espaço territorial, em razão da nova Capital, e do imensurável amor à terra de seu povo, o Brasil hoje disputa, em pé de igualdade com os grandes produtores, o mercado mundial dominado por países altamente desenvolvidos. Os do primeiro mundo, como se costuma dizer. Ninguém conseguiu deter a gloriosa marcha iniciada por Juscelino no sentido de nosso progresso.
Foi-se, entretanto, com ele nossa esperança de ainda em vida ver consumado o inútil grito de “Independência ou Morte”, lançado por Dom Pedro I, às margens plácidas do rio Ipiranga. Plácida, na realidade, tem sido, tristemente, a vontade dos homens que comandam os destinos de nosso Brasil.
Antes ou depois de JK, nenhum governo trouxe um programa de metas como compromisso de trabalho e realizações. Nenhum teve a glória de ser sacrificado e morto em razão da luta que travou pelas liberdades dentro da mais rigorosa ordem democrática, pelo desenvolvimento e pela real independência de nossa Pátria.
Por tudo isso e embora sua eliminação da vida pública de nosso país, JK continua vivo na memória e no coração de seu povo.
Affonso Heliodoro
02/02/2010